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Às sete



Às Sete





A escola ganhou carne, não havendo geladeira, acabou por jogar o sangue nas valetas, as rãs receberam uma enxurrada e deixaram os rios e vieram para a cidade em busca de um reservatório limpo, infelizmente os animais das fazendas que buscaram beber águas estancadas acabaram bebendo sangue coagulado e ficaram doentes, os bichos morreram. Mas devido ao interesse de lucro, vendeu-se  mesmo doentes em todas as carniceiras da região. 

Surgiu feridas no corpo de toda a população carnívora, e, claro, com a impossibilidade de banho, morte de rãs, falta de higiene, carne podre na escola, veio a infestação com piolhos. Não havendo mais rãs, grassou terrivelmente gafanhotos que destruíram todas as plantações.
Com o falimento da comunidade, e de todas as terras, soçobrou pedras sobre pedras. Houve um desespero geral entre fome e sede, falta de dinheiro, negócios, e por muito tempo a escola ficou fechada e uma descrença imensa nos seres humanos cresceu.
Sofrimento, êxodo em meio  à ignorância e falta completa de fé. 

Guerra por fim, tragédia. Deu-se eclipse completo, com a falta de aula de astronomia, acreditavam que os deuses  exterminariam a humanidade se não reagissem através da mortificação. E se feriam uns aos outros. Muitos morriam por exagerar na punição.

Vendo que os mais velhos, os primeiros batiam com mais força pensaram que os céus teriam feito deles os escolhidos para a próxima geração. A autopunição, bem como as brigas de faca mostravam a destreza dos mais fortes. Imaginaram que os deuses queriam um torneio.
Treinaram então, de cada comunidade e em cada territórios os futuros competidores.
E o treino exigia impiedade, seja com que fosse a luta, pai, mãe, irmandade eles estocavam com força até a morte.
Perceberam que nem sempre os fortes venciam. Que havia em cada um uma marca. Era como se fossem os escolhidos. Fizeram uma trégua.
E resolveram sacrificar os bons, os melhores seja por força ou por esperteza.
Os deuses queriam o sacrifício.
Mataram, cortaram as cabeças e as penduraram em lugar alto.
Pouco o que comer.
Os conflitos continuaram, um pouco menos.
Pediam aos deuses piedade, proteção. Marcaram o tércio.
Eram três dias de total quietude. Ninguém falava, ninguém comia ou bebia.
As crianças morriam sufocadas e famintas.

No terceiro dia o sol surgiu novamente. Os terceiros, os últimos, os fracos filhos de cada nação que haviam sobrevivido se apresentaram.
Os menos prudentes, os menos preparados, os mais absurdos e fora de questão, lunáticos, doentes, feridos, deficientes, os que falavam coisas que ninguém entendia eram mortos e devorados.

Então se esperava que houvesse algum entre eles que não prestasse a atenção. Um só que tivesse alguma fala absurda, que rissem, que não estivesse concentrado, que chorasse.
E quando se manifestavam, as tribos cortavam no meio e compartiam em pedaços.

As crianças que tinham esse comportamento eram poupadas por serem crianças. Porém tinham um lugar onde ficavam. Passavam a maior parte brincando e viajando na maionese – que aliás odiavam -, surfando no patê – que para eles parecia mais vômito enlatado -, patinando na manteiga, - que para eles era escarro com gordura.

E eram cuidadas, controladas dia e noite. Se uma entre elas se destacasse entre os demais, o guardião teria o direito de lhe dar uma flecha zero no coração.

As outras crianças, quando isso acontecia, riam muito, e sem dar tempo de qualquer fuga elas pulavam em cima. Arrancavam os olhos e o coração e comia na frente da grande lousa da energia sagrada.

O regulamento das tribos de cobrir e de silêncio dizia:
Quem for completamente desatencioso e virado a breca.
Sem começo e sem fim.
Sem motivos.
Feitos de desprezo completo de tudo.
E de terem alegria absurda sem obedecer a hora do silêncio.
Quem não sentar e calar.
Os que não puderem tomar distância.

Esses não entendem dos deveres.

A moleza era punida.
O choro, punido.
A resposta, punida.
Desobediência, punida e punida.
A fome, punida.
A postura, punida.
Desejos, punidos.
Ir ao banheiro era duplamente punido, punido.
Os pais eram punidos.

Eles retrataram a realidade.
Experimentaram desde a morte dos primeiros lugares, os agressivos, os competitivos, os competentes, os espertos e ligeiros, e, mais que tudo, herdeiros.

E foram buscar caminhos para que, ao invés de sangue pudessem melhorar as relações entre as turmas.

Chega de deuses.
Puniram os deuses.
O mito acabava, os deuses descansavam.
E os abrigos não tinham mais o que fazer com os controladores.


O mundo não tinha mais esperanças, não necessitava mais de sacrifícios. 

O retiro das crianças terminou porque uma arqueologia do passado trouxe a escola novamente ao corpo do povos.

Vamos treinar.
Treinar e treinar eram as palavras descobertas.

Acreditavam piamente que o mercado de carne humana reagiria se tivessem melhores lutadores.
Teriam tempo para melhorar o capital rotativo. 
Os que morressem na batalha seriam imediatamente substituídos.
Para isso um único investimento: escola.

E já que todos tinham filhos de segunda mão, não mais os primeiros. Sabiam que os segundos não eram muito de escola e os últimos, menos ainda. 
Ganhos futuros era o nome básico, o primário do conhecimento.

Mudaram os caminhos.
Vamos deixar que a seleção natural promova.
Era o mercado de ações ganhas antecipadamente.
A escola significa juntar uma coisa com outra, colar uma forma em uma fórmula, cortar caminho, e se adiantar. Fazer um rabicho, aumentar, acrescentar, esticar, expandir, crescer, desenvolver, ampliar, aprender, conhecer mais, inovar, e, por fim, bem longe de copiar, criar.

Mas. Mas, mas, mas. Enfim. Mas, mas.

Os pais voltaram para a escuridão hierárquica de onde surgiram, então, os últimos serão os primeiros em nunca chegarem lá. 


Assim surgiram outras paixões, modos diferentes de rir, chorar, vestir, cantar, tocar um instrumento. A vida criativa os faziam sempre renovados, impulsionados por um momento único, a própria existência.

Mas nunca deixaram de olhar com interesse um erro, um vacilo, qualquer coisa que não fosse matematicamente válido.
Estratégia de sobrevivência, fingir calma e bondade.

Era tudo distante, longe e distante e longe era tudo.


Os governos deixaram de investir na educação, ao menos deixaram de confundir prédios com educação. De treinar pessoas como se fossem educadores. A educação era outra coisa, aliás, segundo os terceiros, não era coisa alguma. De fato, não era coisa. Mas alguma forma de compartilhar.
Por isso ler era divertido. Deixou de ser obrigação, dever. Matemática era uma filosofia aplicada ao nível da abstração, e nela havia algo a mais. 

O sentimento, um bem estar, alegria de ser tanto quanto um poema, uma fórmula que qualquer criança poderia entender que se fazia para o bem.


Por fim, houve um tempo final. Uma mulher traiu o seu amado, quando o amado traia a sua amada mulher. Ms por vingança construíram cruzes e penduraram os filhos.
Todos acharam isso legal. Até mesmo o chefe da tribo lavou as mãos e o sovaco na frente de todos, dando a entender que era uma questão de eugenia, melhor dizendo, de higiene.
As raças não podiam se misturar, as pessoas teriam que cumprir os ditames da lei e continuarem juntas e felizes para sempre.

E deliberou-se, a mando de um antigo burocrata o sacrifício dos misturados, dos mestiços.
Levados à morte.

Era um jeito eficaz de dizer quem eram os bons e que não eram.
Dava certo. Esse é daquele país, o outro de outro. Dessa tribo, e de outra.

Um sujeito crucificado gritou antes de morrer: pensar o bem, falar o bem e fazer o bem.

Ele, um mestiço, apontaram.
Blasfêmia, gritaram.
Mas, vê que coisa, desde a sua morte, e em busca de retornarem a um tempo em que esse cara brincava, muita gente escreveu sobre ele. Por que foram estranhas aquelas palavras.
Um novo tércio?
Aqui fofoca caminhou desertos, mares, montanhas, e outros lugares jamais vistos.
Tentaram entender o que pensar, falar e fazer ou era o contrário?
Qual bem? Um carro, uma moto, uma roupa de Zarathustra?
Não deu outra. Rapidamente a escola exigiu que todos falassem aquelas palavras sem-sentido antes de começar o treino educativo. Era diferente, um tanto.

Todos juntos:

Bem pensar,
Falar bem pensado
Pensado o bem
Fazer o falado

E juntos diziam: Ao bem!
E imaginavam castelos de ouro, e a natureza inteira sob controle.

E como acontecia de vez em quando organizaram tribos de palavras:
Os bem por bem
O pensados do pensar
O falado feito
Fazer o pensar
Falar pensante
E os universais do super-bem falado e pensado
Essas eram as mais conhecidas, mas haviam outras e outras e mais outras.

As palavras cresceram, deram cria:

Base final, vieram as novas sete pragas que enfileiraram os homens nos uniformes de suas mesmices. Para perderem a consciência de existência festiva marcharam em um tempo que lhes daria resultado, a garantia de comida.

Pensar, descobrir um jeito de passar a perna adiante
Falar o que as pessoas querem ouvir escondendo o sentido e significado
Fazer, pegar para si o que é dos outros e compartilhar o alimento como um ritual de vantagens ganhas sabendo, frente a todos quem distribui o bem
Bem, a meta única e final.

Para identificar quem eram Pessoas de Bem, foi fácil, chamaram um design e cobriram os corpos dos Abençoados, os que estavam cheios de bens.
Era o meio mais fácil de alimentar os demais sem que ninguém ficasse chateado.
Roupas, coisas, trecos,  insígnias e brasões, bandeiras de seus bandos melhor mostravam quem eram os Abençoados.
Os espertos e os temerários.

Graças à escola eles possuíam aquela cara passada, concentrada e atenciosa, tinham o corpo parafusado nos seus interesses e vantagens.

Assim, sabia-se que aqueles de um lado eram de um continente, e outros de outro, e dentro dos continentes cada gente de um território, e de cada território cada qual em sua geografia, e comunidades, grupos, turmas, até a individualidade totalmente repartida.

No entanto, havia a comunidade das Pessoas de Bens, as que tinham para si toda liberdade, toda igualdade de bens gerais e eram entrei si, fraternos como irmãos do bem.

Nesse tempo, os negócios prosperavam, e então, para que ficasse mais forte ainda, qualquer pessoa tinha o mesmo jeito.
Andavam parecidos, falavam choramingando quando tratavam com pessoas das quais tinham interesse, ou olhavam para uma paisagem quando encarava os olhos uma das outras.
Desfilavam, jamais andavam.
Era a igualdade, a imitação quase perfeita de gente de bem.
Quanto mais conseguiam fazer favores, mais vantagens recebiam.
Cargos, cargos em comissão - antecipadamente avaliada e controlada -, era o único jeito de pessoas sem bens tornarem-se do bem.
Ela é do bem.
Era diferentes, na função, mas eram homogêneos no interesse.
Dava a maior pauleira, às vezes um e outro cupincha caía.
Outros meganhas se entortavam e morriam por suicídio direto de terceiro.
Sempre havia um Terceiro.
Nenhum contrato podia ser validado sem a assinatura do Terceiro.

 Dentro e fora pensavam como todos: iniciar, lutar, guerrear, brigar, terminar, eliminar.

 E retornando aos tempos mais antigos, os pais acabaram sacrificando seus próprios filhos como causa de todos aqueles acontecimentos.
A fé Universal veio.
Os universais criaram a Universidade para acalmar os espertos:
- Podiam tornarem-se ajudantes qualificados de pessoas de bens.
- Podiam explorar os que não tinham bem algum a pensar e falar.
- Podiam falar o quanto quisessem sem serem admoestados.
- Podiam fazer qualquer coisa conquanto realizasse um bem.
- Podiam isso e aquilo para o pensar, falar e fazer para as pessoas de bem.

E continuaram a beneficiar, isso é fazer o bem sem pensar:
Esconderam os rios sujos de sangue.
Cavaram e filtraram e pegaram água a um preço que favorecia o bem de todos.
Aliás o bem de todos era a praça, a rua, mas como ninguém sabia muito bem quem passava, então cobravam pedágio para ajudar o bem de todos a continuar bem de todos e nunca bem de qualquer um.

Mas um dia descobriram que encheram o mundo de caixas. Eles que haviam cortado os filhos da luz, do Sol e se fizeram promessa.
Prometeu, tem de cumprir.
Em cada uma delas um diabo vivia. Era o dia cortado, Dia de corte Abolo aquela bola de fogo, o sol que não entrava mais por fresta alguma.
Estavam todos presos em suas caixas de sete lados: em cima, embaixo, de frente, de trás, de um lado direito e de outro lado esquerdo, e em si mesmos.
O cubo mais o bicho dentro:  O Seis lunar mais um da terra seca, do deserto, o Sete.

Eram esses caixotes, lugares povoados. Buracos que chamavam sobras dos bens.
Sobrados, apartamentos porque era proibido casa - de juntar, de casar e ter filhos, quintal e jardim (muito caro).
Era proibido porque era dispendioso, e muita gente queria um lugar no mundo do bem.

Mais adiante, o bem era tanto, mas tanto que ninguém mais queria bem algum.
Então a lua, a gata, desceu do céu.
Agarrou o seu único bem, o demônio, o Sete que vivia entre tantos bens.
E o devorou com todo amor e paixão.
Desse dia em diante o gato, Lua, teve sete faces, sete caras.
As Sete Vidas que deram ao gato garras e flexibilidade, olhos rápidos.

E uma corda imensa surgiu no horizonte feita do mais profundo roxo de sangue transformado:
E todos os dias, a humanidade via o sinal e lembrava:
Pensar o bem, falar o bem e fazer o bem.
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