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Movimento contra

 

 



Movimento contra



   Muitos já disseram a respeito das perdas humanas nas guerras, no trânsito, em desastres naturais, e principalmente na fome. A falta. Falta de meios de sobrevivência, e em condições equitativas. A falta. Falta de perspectivas para o futuro porque o agora é a única luta para o possível viver. A economia, como a conhecemos, vive disso, da falta.

A falta de algo é o que move a economia. Podia dizer que o bem não é uma coisa, que o bem se reveste de humanidade em ser bem. O bem de poucos, o estado de estar bem, possuir um bem não é social no sentido de bem -estar, de seguir aos demais.

Quanto mais bens se tem, mais se constrói a falta. Se houvesse quem nada mais comprasse, nada mais desejasse senão o bem de todos, a economia mudaria o seu papel, teria outro script, e teria que interpretar bem, para não causar a falta.

Ao contrário de um teatro em que a verdade do ator é uma plena verdade, a economia anda nua, sem o traje que a revela, vive da falta, quase se esvazia criando crises, isso porque a economia não tem a forma artística esperada de um bem sensível, bom e criativo. Está na mesa de jogo, aposta a vida social para alcançar o que mais deseja, a falta.

Bastasse a descoberta de que o jogo econômico realizado nas bolsas de valores em todo mundo, até mesmo por essa região Sul, graças aos fofoqueiros e demais mensageiros profissionais da mídia que fazem o meio campo, para os chamados gamers, ou investidores, que não cessam de estar à mesa desse tunguete.

Fosse suficiente que soubesse, que esses poucos  têm a população como objeto de seus ganhos, somente monetários, pessoas como reféns de suas práticas cínicas e certamente sádicas por tratarem a todos como pequenas peças de suas pretensões, monetárias em quantidade, largas, imensas, e pequenas por desumanidade.

    Faz tempo que se estuda economia, que se busca equilíbrio, mas se vai apenas até ao mercado. Cientistas possuem respostas para a defasagem, para o caos da falta, a produção, a formação técnica, rápida para o trabalho. A via de estudos tecnificados, específicos para fazer o que se deve apenas fazer.

    Os técnicos tecnificados podem ser como soldados, capatazes, carcereiros da inocência, guardião de gueto, de campo de concentração. E mesmo professores, músicos, artistas de toda a era, advogados, médicos, e em todas as profissões o que vale é a lei representativa de uma verdade, o seu halo, o reflexo da empiria movida por uma teoria, doutrina, ideologia.

Por exemplo, lê-se Dostoievsky como que a um manual, busca-se encaixar uma função, um algoritmo que possa ser aplicado. Não se entende a obra, apenas o que pode ser utilitário, o que aparece ser, o que encaixa com os estudos. Assim se dá com Camões, deve servir para serviços de logística, para o entendimento das geografias, e com Machado de Assis, o mesmo, a desumanização ou retro-humanização do cão que fala parece com um estudo técnico em robótica, e para entender xadrez e nunca a obra, pode se ler Melville, entre outros muitos. O Kibalion pode ser usado para o desenvolvimento de processamento de dados, o I-Ching, o mesmo, de forma que o formalismo faz o aparato pensante em conceitos técnicos, e não se pode ler a obra, não porque não se queira ler ou se deixe de ler, apenas porque a obra é um assunto, um tema, um instrumento.

Isso provém, muito provavelmente, de uma história educativa em que todos devem ser vencedores, todos devem ser nivelados, os que saem fora da regra, do plano, estão fora. Formação de gente economicamente ganhadora de sua própria jornada, o que, sem dúvida, é uma falta. E se lê sem ler. Não porque não haja leitura, convivência social, aprendizagem, mas porque ler é o entendimento do significado analógico e comparativo com a teoria técnica.

Todo mundo já leu um tanto de Marx, e todos sabem que tudo que é sólido se desmancha no ar, e esquecem ou não entendem que se desmancha no ar até mesmo o conceito. Parece que vivemos em uma sociedade justificada por ser terrivelmente feita da falta. O único lago fechado são os manuais, os compêndios doutrinários, as teorias fechadas, e conhecer é antes uma prática que se sobrepõem à qualquer dúvida. Essa represa que garante o espelhamento do céu é a verdade, essa técnica aplicada.

O algoritmo pode ser visto como algo que constrói e desconstrói finalidades, de forma que pode ser aplicado como se queira conforme o fim. E não se apresenta quem não perceba que a estrutura de um algoritmo leva consigo toda a reprodução funcional, utilitária, instrumental encerrada, autocentrada, auto-suficiente, bastante em si mesmo, e isso, posso dizer tecnicamente, não passa de moralidades.

As filosofias, as teorias não terminaram de serem construídas, ainda há muito para o melhor aplicável discernimento. E é por isso que estamos vivendo, tenho a impressão, em um mundo onde a corrupção é uma escolha, deve ser eleita para quem quer ter sucesso na vida. Não porque as pessoas repentinamente se tornaram cínicas, imorais, sarcásticas ou sádicas, a causar o bem a si como bastante, e que o mundo dos demais continue a ser um inferno.

Sei que Sartre disse, mas entre quatro paredes, que o inferno é o outro, esse outro demoníaco que nos prende a nossa história. Mas, pense, se o inferno é o outro, naturalmente devemos ser o diabo para considerar isso. Se assim for, se somos o bicho mau potencial, em busca de manter um mal, bem certo que nosso pensamento sobre o bem-social é algo extremo, único e suficiente, individual.

Muitos cientistas, e especialmente gente leiga nos detalhes econômicos, viveram se debatendo para entender qual o fulcro da economia, o que a faz mover, e descobriram, acabaram por voltar a enxergar.

Algo fez que se tirasse a venda dos olhos, que se percebesse que não é uma questão unificada em um só ponto, as bolsas. Não, os movimentos Occupy Wall Street, Primavera Árabe, Espanha Indignados, e outros movimentos que surgiram com esta descoberta, de que o fator econômico afeta a democracia, de que a tentação autoritária, de controle social e proteção dos signatários da miséria humana distribuída.

Alguns mensageiros de blogues, da mídia oficializada, têm tentado ao mesmo tempo encontrar os fatores que produziram esses movimentos, considerando um meio de empanar ao forno das ideologias protetivas os motivos pelos quais essas mobilizações sociais, especialmente e veementemente entre os jovens se deram.

A falta de oportunidade para o trabalho, defasagem entre formação e meios produtivos que estão limitados entre grandes corporações em um processo hegemônico, as exigências ortodoxas para o freio moral em um mundo de comunicação 'quase' aberta, o domínio sobre a vontade de todos, limites do comportamento em relação aos espaços sociais de lazer resumidos como escape das pressões meritocráticas em 'pubs', botecos, praças de encontro com música, droga e sexo.

Alguém percebeu que é muito pouco, que é quase nada que oferece a Sociedade do Conhecimento, que isso não condiz com o desenvolvimento técnico e tecnológico.

E esse alguém, entre tantos, essa multidão entendeu que vive mal, em casas imensas de papelão, pequenas de restos da produção industrial, que o esgoto e a água, a energia elétrica são objetos de ganhos em causa.

E que tudo é efêmero e irrisório, que os meios de transporte são o intestino fedorento das cidades, que a corrupção cresce mais em proporção, que os parques que mal passam de serem apenas contendores de águas da chuva. Quando muito cópias ilustradas de um passado duvidoso ou de certezas estrangeiras que não pertence a esse povo, a essa gente.

Nada possuem que possa se chamar lazer para a população, senão manter o mesmo jogo econômico, apropriação do bem social como lugar de reverência a grandes empresas que se ocupam em stands, lojas, produzem mercado no sentido único de compra e venda, e que o futuro será pior.

Com esses aspectos, vemos que os fabricantes de respostas públicas não puderam pesquisar, ou conhecer como reconhecer, isso porque também estão avaliados com etiqueta e preço.

A descoberta de que o fator econômico reduz o tempo de vida de uma sobrevida larga, grande, para a massa média, e que a maioria está conformada a uma existência de poucos sentidos, e que a qualidade de vida vai até a marca, que a entidade humana é uma ameaça a esse esquema a quem chamam de sistema capitalista.

Os governos e tornaram agências de negócios, participam diretamente da fabricação mitológica, copiada dos últimos recentes histórico ditadores, personalísticos sádicos, transmutados em grupos, que operam seus interesses na construção volumosa de elefantes brancos, de imensas moscas brancas a que nomeiam de patrimônio social cultural. Quando muito não passam de mediadores, mensageiros, administradores, gestores de negócios. E isso vem de Serres, com palavras mais duras e também afetivas. 

A aparência de um bem público, mas privatizado internamente, terceirizados licitados a baixos salários, ultra-formação para serviços pequenos, proteção grupal garantida a incompetências fenomenais que assumem papéis na hierarquia dessa armadilha. Descobriram isso, que tudo não passa de uma mentira formalizada em discursos pretendentes a serem renovadores quando são apenas coniventes por acerto.

Fora isso criam ameaças públicas que envergonhariam a um Stalin e a um Hitler, falta de água, apagões, melhores garantias para exportar e importar do que produzir internamente. Dificuldade de armazenamento de produtos, falta de investimento nos setores carentes, condições bancárias com juros imensos aos locais, impossibilidade de crescimento, uma trava protetiva às bolsas internacionais que atuam livremente.

O uso grupal de votação duvidosa, que faz a eleição um meio incerto por ser representativo - representa, parece -, e que no fim mantém esse esquema de domínio. Foi isso que os movimentos de Wall Street, e os demais movimentos descobriram. O passeio silencioso que se deu no Brasil, sem ida e sem volta, por exemplo, demonstra bem quanto sem saber por onde, não sabemos.

Não se trata portanto, do capitalismo selvagem, da luta de um contra todos, mas da falta de voz social, e uma voz que agora ressurge contra os limites do capital demonstrado no gerencialismo praticado por desgovernos.

Basta entender que há nesse instante uma ameaça de guerra global, todos sabemos disso, inclusive porque se desconfia de tudo, inclusive da pandemia, e essa desconfiança, quanto mais compreendida que vem dessa falta de valores, de considerar a população uma ameaça pode torná-la ativa, e de maneira inesperada.

Posso estar errado, o que seria ao menos a certeza de que o óbvio não anda com outra cara, posso ter dito um monte de besteiras, o que provavelmente me faz alguém que fala contrário às certezas, e que seja assim, que pensar quanto a vida está legalizada, controlada, definida, e mais que tudo, censurada, me obriga a pensar que não pode ser assim.

Na verdade, redescobriram o sabido, o conhecido. Cabeça ocupada no dever não tem tempo para discutir direitos. Essa é a visão implícita de formação técnica. Quisemos tanto a democracia, e ela não aparece, se esconde devido a economia, por causa da falta.

Agora, serão nossos filhos investidos no poder de Estado que vão atirar nos seus pais, como aconteceu até agora em todas as guerras? Qual história teremos? Qual futuro poderemos almejar quanto pouco seja, percebendo que qualquer amanhã pode ser melhor do que agora. E se esse agora é o instante da vida, o futuro não vai além do prato e dos prazeres situados além da fome.

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Charlie





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    https://www.smashwords.com/books/view/952362 7


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