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Traidor e cão

É muito bonito o cão. O traidor também é bonito. Eles parecem possuir alma. Sentidos de vida. Domínio e preza são substâncias canalizadas na carne. 
Ser cão. Defesa do negócio, defesa dos interesses, entulhos protegidos. Território abismados por um belo Cérbero.
O traidor é o que assume a vantagem perdida, a oportunidade vem para move-lo, torná-lo mais forte, e em ser a carne dilacerada. Picotada no pedaço, na formalidade do interesse.
Adora isso. Adora ser devorado.
O traidor tem um líder. Parte e chega ao grupo. No meio caminho aristotélico, o traidor não tem medidas para carregar o osso, como faz o cão para o seu chefe. A ideologia da traição é o prazer cego por si mesmo, contrário de narciso que se vê, o traidor procura seu dono. 
A delação, o engano, a mentira, a covardia o faz completo na sua falta. E é na sua perda, com o desaparecimento do outro a quem causa o mal, que inverte seus valores como o medroso faz, o temerário. Na busca do prêmio, da medalha do bem feito com o mau. Deseja sentido quando não há mais significado. 
Ele protege o sadismo com masoquismo. Ergue a bandeira do partido - seja qual for que esteja incluído -, não com o que acredita, mas na facção, na ética do dever de sua medida, do prêmio que receberá, de lealdade ao fragmento, ao pedaço, à parte. Um vereador, um deputado, um assecla de sua religião, de um empreendedor, de pessoas que facilmente o influenciam a mostrar-se na cegueira que possui de si mesmo. Cumpre ordens, e educadamente mata, no terror exclui, na vigilância de seu caráter, veste a camisa, sua, transpira no interesse, não do osso, mas na obrigação que o faz afável entre os que o dominam. Bom cão, mas nunca confiável, o sujeito do temor se expõe porque acredita que cumpre. 
O traidor nasce sem caráter, cresce sem limites, abona-se sem personalidade e morre como herói de suas próprias misérias, aquelas que não reconhece, porque afinal, sempre, e a qualquer momento receberá do seu dono o prêmio. Denunciar, apontar, levantar a caça e ter a satisfação do afago, da cola trêmula, do rabo estendido, da pata no ar, da língua úmida, das pequenas glórias e da ração subordinada que recebe quando segue, cegamente, e, obediente cumpre o mando na espera constante de ser reconhecido como bom. Fiz o que deveria ter feito - nessa contradição, o fazer poderia. O feito, um engano que mesmo não reconhece. 
A ação de trair é se fazer maior que a totalidade no fragmentário. O cão é maior que o traidor, ele ao menos tem um território.
Espaço do traidor é qualquer lugar, qualquer tempo conquanto tenha algumas cartas na mão. Sabe que pode perder, e perder quer dizer, ir para outro lugar. Bom ou ruim, o outro lugar não presta. O que vale é manter-se aquietado. Um fazer de conta que tem um preço maior. Todos os dias tem um preço maior.
A traição pertence a uma ética newtoniana: tem o mesmo efeito. O traidor e o cão possuem as mesmas medidas, apenas parecem que estão de lados contrários, mas são os mesmos.
Singulares, porém plurais. Separados e unificados.

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