Brasileirinho da classe média
rica na miséria
Olha
Veja você mesmo
Não frente ao espelho
o reflexo é reflexivo e não mostra a cara
Pense nos teus pés que marcham
no escritório
naquele lugar
quando anuncia a sua presença
a sua cabeça que ergue o dedo do nariz
aquela ponta
Enfia a cara no mundo
com a implosão da afetividade
na máscara do poder
Note como veste o uniforme da moda
As opiniões que tem parecem seguir
normativas
regras
de bom comportamento
que possuem a intenção comparativa
Quantas vezes perguntou se há algum tipo de mescla
pensa que vai se preservar
a casta
bem gasta
não deve manter contato
E o tempo que pára no sinal de trânsito
a sua demora em decidir
para mostrar na passarela da rua
o carro esticado de seu caráter
Nunca disse algo assim:
sabe com quem está falando?
manda bem
volte-se para o seu tamanho original
nem racismo tem
Coisa, vem cá!
O coiso, não ouviu?
Logo você que é banhado nessa cultura
Já percebeu que é essa mistura
Árabe e judeu e índio e negro e asiático e europeu
Nunca foi estúpido
nem perdeu a paciência
e já foi insignificante
passou vergonhas públicas
cometeu erros
cagou nas calças
humilhado por esconder quem é
E o pavor de ser brasileiro
ridículo
gritão
esquecido
risonho
distraído
confuso
perdido
Aquele sentimento de não ter pátria
de não querer pátria
de não pertencer àquela gente
Põe os pés pelas mãos
É que nem botão
Entra na casa para sair
E é tão agressivo
e fala pouco
e fala baixo
e mente a origem
e chinga de onde vem
apresenta suas honras no exterior
mas nunca professa para si mesmo que é o desgraçado
o colonizado
o vendido
o fornecedor da produção
escamoteia como um deles
e se faz vencedor
finge ser explorador
abre fronteiras
luta por um bom mercado
e se sabe que está acabado
É técnico
trabalha na departição
Faz voz de simpática
alos!
E distrata
não sei quem é
Copia o comportamento das filas
Faz papel carbono de obras artísticas
Rouba direitos autorais
Cospe na cara do seu professor
porque sempre aprendeu tudo sozinho
uma ilha
o mundo social que possui é maior
mas convive com os amigos de mesma opinião
para não perder o posto no trabalho
garantir o emprego
e se fazer de bonzinho
quando é interesseiro
oportunista
covarde
politiqueiro
Vozeia para o mundo
tenho um cargo
e se vende fácil
e é sujo e corrupto
num dia protege o patrimônio público
no outro põe fogo
Diz: não fui eu
mandaram
Grosseiro
Grotesco
Mandão
além de impiedoso
Esquece as coisas
chama a atenção aos gritos com seus empregados
com os que esperam de ti liderança
E entendeu o cursinho de chefia
como ser capataz
como preador de escravos
É tão brasileiro
que olha o demônio como um velho amigo
Diz que tem fé
mas vai com o vestido apertado mostrando as ancas para o seu pastor
entra na catedral como a santa imaculada
e mostra a língua para o padre com perversão
Depois liga o som alto porque todos têm de gostar do que nem gosta
Ador aescândalo
agride as pessoas no trânsito
depois vai para algum lugar
segue santificado
vai devagar
pessoa tão amorosa
e quando é soldado sonha com um tiro
Vive de pequenas vinganças do passado
Aquele nó na garganta
de inseguro
Madorrenho que nada faz
procura não fazer
gasta um tempo dissimulando atitudes
depois procura um pai de santo para pedir perdão
sai aliviado
na alma segue encrustrada aquela memória cruel
mostra-se doce mel
e é fel
faz carranca de barcaça
dentes à mostra
vampirando
sugando
põe seu nome na tabuleta na entrada da empresa
olho do patrão engorda os porcos
E lembra que se joga no chão como um bebê chorão
Na alfândega é a educação
no estrangeiro tira fotos
de monumentos
é o que a mente estreita pode ver
o mundo pequeno não lhe serve
põe nas redes sociais alguém que morre no hospital
divide
compartilha
a dor e a desgraça
esperando bondade que não tem
Dedo duro
os outros não prestam
entrega colegas
conhecidos
vizinhos
para ver o oco
E nos concursos
quando está sentadinho com cara de argila amassada
faz passar os amigos
o namorado
a namorada
aquele aluno que orientou
Ninguém nota
Comenta: prova ótima
perfeita
maravilhosa
e dá a nota
E se reclamam de ti
leva às últimas consequencias
como ofensa pessoal
Foi um dos que furou o triângulo
e cegou o olho que tudo vê
mas continuou como bom pedreiro
disfarçando a mão de sangue
É todo brasileiro
separatista
convalescente
tem a doença
aquele mal implacável
a baixa autoestima
Já sou classe média
b d e f g h i
acumuladores
de dinheiro pouco
e muitas tralhas
Arregaça essas canalhas
E o ódio
tão natural por ser completamente submetido
Faz planos empresariais
Inventa riquezas
Fala por trás das pessoas
e aponta o dedo
E quando está com raiva
nem sabe qual razão
Brasileirinho sem pensamento
mau deslumbramento
palavra sem argumento
E se é policial
da justiça
militar
ou administrador de empresas
é a mesma coisa
Mau
se faz de justiceiro e ataca as pessoas simples
como você mesmo é
mas finge não ser
faz terrorismo
arromba a casa de qualquer um como verdadeiro bandido de farda
Conta para os colegas que teve de tomar providências
Mostra brio e honra no crime
A insegurança aumenta quando não é visto
o jeito que trata os filhos
a esposa
o marido
Ele se suicidou porque você
não amparou
E nem está aí com isso
tem dinheiro no banco
e tem dívidas maiores
arrota peru e come frango
As dores no corpo
ranhuras
pequenas fístulas
da alma
brasileiro médio
quer apanhar na cara
e é servo o servo
Nunca produziu nada
tomou dos outros
Verdadeiro industrial brasileirinho
possui um armazem de lojística
e faz montagem de um quebra cabeças
por isso tem de estudar as línguas estrangeiras
precisa aprender ler o manual de instruções
Obedece bem
chama o garçon estalando os dedos
bate o prato
sai do restaurante porque não foi prontamente atendido
está no casino dos oficiais
botas polidas almas encardidas
Desce do avião com o passaporte escondido no bolso
tem vergonha
tem pavor
de ser quem é
Frágil
ignorante
analfabeto da vida
traficante de interesses
viva armadilha
enganador
trapaceiro internacional
brasileiro da classe média
tem na boca a rédia
A escolha política
vantagem
vai arranjar empregos para a sua turma
é capaz de negociar salário
ganhos a mais
proventos
em nome da deusa cega
da balança enferrujada e vazia
classe média
classe ocre
ricos
abandonados da inteligência
conhecimento ausente
sem história
sem cultura
sem futuro
cidadão do mundo
no português brasileiro
que nenhum lugar se traduz
fizeram para você
única língua diferente
o idioma não dito
jamais expressado
pouco conhecido
e ignorado
Tecnismo
incapacidade humana de entendimento
Esperto
Malandrinho
Safadinho
Encrenqueiro
É aquele que se levanta
primeiro
e na conferência faz a pergunta idiota
Acusa
Estaciona na contramão em cima da calçada
e reclama aos brados contra qualquer tipo de democracia
Tira sarro
o cocô do nariz
escarra na rua
engole a meleca em público
arrotão
peida
e ri
ri
ri de si
da coisa que é
o maquinismo reprodutor
o treco
feito de amontoados de falha
vez e outra
paga uma fortuna
e sobe nos camarotes
para ver o povo
Lembra que chama de pobre
à gente simples
emocionado
viu a si mesmo
viu
vil
brasileirinho
tão bonitinho
tão ordinário
mergulhado no poço do umbigo
morrendo afogado
segura entre os dedos as ninharias
a pequenez
repete
repetido
robotizado
enferrujado
ultrapassado
na hora do gol
chuta fora
chuta longe
para ganhar vantagens
e cai e sofre e morre
amendrontado
medinho
cu na mão
ama a família
quer todos em volta
que todos morram sufocados nas suas idéias
nos seus nojentos pensamentos
nos seus maus exemplos
no seu poder de manipular
é tão emocional
brasileirinho
brasileirinho
classe média
café com leite
na padaria
E assalta
e mata
bonzinho
descrente
e ordinário
omisso
conivente
e otário
Imperialista
grileiro
territorialista
Verdadeiro
Monarquista
nobre
nunca pobre
Quer voltar para casa
mas não sabe aonde ir
Cochicha
Faz acertos
Negocia debaixo dos panos
Faz conluio
esquema
racha
Se diz mestre
mas não ensina
Classe média
brasileirinho
ninguém merece seu saber
Desiste fácil
Volátil
Hoje sim agora não
Casa de revista
prédio com nome francês
outro com texto em inglês
Sofre tanto
o portão eletrônico não funciona
É tristonho
a mãe nunca gostou do seu jeito
ó
o pai o maltratava esse pobrezinho
ó
tudo muito chato
escola paga
universidade de graça
É contra as cotas
porque as pessoas são ruins
e não tem culpa disso
nunca fiz nada
diz a verdade
nunca fez nada
Agora não
veja lá
telefone sem fio
enfiado no buraco do ouvido
cabelo cortado à escovinha
soldado raso
é um ciborg da administração
é uma invenção
como um velho pedante nazista
está com o dedo em riste
É a classe média
rica da semana
mediana
leu tudo
conhece tudo
e se faz de mudo
medíocre feliz
esbraveja
grita
imita a patroa
primeiro que bate e o único que apanha
mas não sabe
político
quer ensinar esse amontoado saturado
a arte
e diz que é educar
formar comportados
Proíbe a manifestação
qualquer expressão
que não siga a cartilha
Tudo é pedagogia
com didática e avaliação
brasileirinho da classe média
milionária na ignorância
rica reclama:
temos de mostrar para esse povo
onde fica o ovo na galinha
Um amor
é contra a ditadura
contra o imperialismo
contra o eufemismo
contra o comunismo
contra o socialismo
suas lágrimas vão para a liberdade
Vai para a China Comunista negociar
Vai para a Rússia acertar
Empreendimentos estrangeiros
é melhor do que de brasileiros
Põe fraque e vai para o Iraque
Beija a mão forte
da Korea do Sul
e da Korea do Norte
Exportador de matéria prima
Importador cadastrado
de manufaturado
Vem roupas e sapatos fashion
feitas por crianças escravizadas
É piedade
essa veleidade
Classe medinha
metida no corpete
mediana
Classe merecedora
vencedora
igual que picles
conservadora
Lê ouve e vê
merchandising
a mídia diz que é notícia
mas sabe bem
já fez disso
é matéria paga
fake news
coisa arrumada
de jornais
Jeitinho brasileiro
casa por interesse
uma propina
com sinceridade e apreço
Vai à festa
festeiro que nossa
posa
a classe média
convidada
pouco sabe que é escravizada
rica que pinica
Enche a cara
e no sábado vai poliir o carro
Chia: não quero ninguém perto
Está com a cica
É tão importante
imponente
E tão dependente
Carente que só
Precisa de ajuda
alguém acuda
A alma seca e muda
Mas é de boa gente
não se deve confiar
pior que parente
nem de frente
Jamais cantado
Muito maltratado
o brasileirinho
a classe rica
a classe média
arrogante
e indecente
o povão sabe
ele se acha
ele só teima
vida mimada
Sai da boca louca:
Essa gente só me dá desespero
queimava
derretia esse povo brasileiro
Brasileirinho da classe média
é como eu
metido a besta
cheio de defeitos
e preconceitos
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