O lugar comum da educação
Quando fui ao teatro pela primeira vez eu senti que me desligava de alguma maneira do mundo exterior. Estava num lugar de poucos, convidado a conhecer algo que não se teria idéia alguma completa. A sensação do desconhecido, do inusitado me causava uma expectativa aterradora. O que vai acontecer! A gente se sente assim também quando somos deslocados do lugar comum, do mundo competitivo, do óbvio triste da civilização que se consome em consumir.
Lembro também que na escola pública era o teatro que movia as determinações didático-pedagógicas, o movimento para a sala de espetáculos era uma festa. Entre colegas, na algazarra, no jogo das relações escolares nada nos surpreendia. Estávamos acostumados a receber com naturalidade as surpresas críticas, culturais, estéticas, do ensino. Parece que estou enfim desacostumado a tudo que não sei, que não posso prever, que não tenho controle. Parece que devo o tempo todo me qualificar, contabilizar meus dias, e a capacitar, administrar os acontecimentos para dizer que estou vivo na vida. Em verdade, pensemos um pouco, as coisas que já sabemos devem ser devolvidas de maneira a serem compartilhadas da melhor forma possível a todos que pudermos alcançar. Mas isso não basta. Não dá para sair pela rua a dizer o que se sabe a quem passa.
É meio estranho querer dizer que podemos passar aos nossos filhos, amigos, interessados que temos algo a lhes oferecer. Não se ensina a prática da vida. Porque a vida se aprende na prática. O teatro da existência tem cortinas muito mais pesadas do que a do teatro propriamente. Se na apresentação artística não temos idéia do que há de vir, isso também se dá no dia a dia em seu tempo dinâmico.
Capacitar, qualificar, formar, projetar, planificar, programar, se preparar para a vida que nos pega todos os dias na esquina não dá muito certo. A realidade não está parada esperando que alguém a mova. Tudo está em movimento. A educação é um caminho muito amplo que abre as cortinas todos os dias para nos maravilharmos ou nos deixar prostados, inertes frente às surpresas da vida.
O que podemos fazer é praticar o bom hábito de tomarmos posição, de conversarmos mais, de vasculharmos o desconhecido, de sermos éticos e bons, e de corrermos o risco da surpresa com a dignidade que possuem as crianças nos jogos escolares que vão assistir a algo que, não sabendo o que se vai dar, estão prontos porque confiam na educação que recebem.
E assim fiquei frente a uma imensa cortina vermelha a esperar o inusitado. E não era nada demais, apenas o direito de estar ali, de poder me comover com a vida porque possuía a prática escolar, de uma educação que oferece sempre a oportunidade do inolvidável, de algo sempre inalcançável, impossível de provar novamente da mesma maneira.
PMNT
Quando fui ao teatro pela primeira vez eu senti que me desligava de alguma maneira do mundo exterior. Estava num lugar de poucos, convidado a conhecer algo que não se teria idéia alguma completa. A sensação do desconhecido, do inusitado me causava uma expectativa aterradora. O que vai acontecer! A gente se sente assim também quando somos deslocados do lugar comum, do mundo competitivo, do óbvio triste da civilização que se consome em consumir.
Lembro também que na escola pública era o teatro que movia as determinações didático-pedagógicas, o movimento para a sala de espetáculos era uma festa. Entre colegas, na algazarra, no jogo das relações escolares nada nos surpreendia. Estávamos acostumados a receber com naturalidade as surpresas críticas, culturais, estéticas, do ensino. Parece que estou enfim desacostumado a tudo que não sei, que não posso prever, que não tenho controle. Parece que devo o tempo todo me qualificar, contabilizar meus dias, e a capacitar, administrar os acontecimentos para dizer que estou vivo na vida. Em verdade, pensemos um pouco, as coisas que já sabemos devem ser devolvidas de maneira a serem compartilhadas da melhor forma possível a todos que pudermos alcançar. Mas isso não basta. Não dá para sair pela rua a dizer o que se sabe a quem passa.
É meio estranho querer dizer que podemos passar aos nossos filhos, amigos, interessados que temos algo a lhes oferecer. Não se ensina a prática da vida. Porque a vida se aprende na prática. O teatro da existência tem cortinas muito mais pesadas do que a do teatro propriamente. Se na apresentação artística não temos idéia do que há de vir, isso também se dá no dia a dia em seu tempo dinâmico.
Capacitar, qualificar, formar, projetar, planificar, programar, se preparar para a vida que nos pega todos os dias na esquina não dá muito certo. A realidade não está parada esperando que alguém a mova. Tudo está em movimento. A educação é um caminho muito amplo que abre as cortinas todos os dias para nos maravilharmos ou nos deixar prostados, inertes frente às surpresas da vida.
O que podemos fazer é praticar o bom hábito de tomarmos posição, de conversarmos mais, de vasculharmos o desconhecido, de sermos éticos e bons, e de corrermos o risco da surpresa com a dignidade que possuem as crianças nos jogos escolares que vão assistir a algo que, não sabendo o que se vai dar, estão prontos porque confiam na educação que recebem.
E assim fiquei frente a uma imensa cortina vermelha a esperar o inusitado. E não era nada demais, apenas o direito de estar ali, de poder me comover com a vida porque possuía a prática escolar, de uma educação que oferece sempre a oportunidade do inolvidável, de algo sempre inalcançável, impossível de provar novamente da mesma maneira.