Teatro infantil, o teatro da vida
A beleza do teatro infantil como faz está relacionado a uma grandiosa sensibilidade que compreende a criança. O mundo da criança, como nos ensina a Pedagogia é também interno, um universo de vida sensível e iluminada. Quando o teatro busca se aproximar desse lugar maravilhoso deve, ao menos fazer o ritual, a consagração da alegria. Sem isso, temos técnicos, fazedores de dinheiro com interesses muito distantes da delicada vida da criança.
Um teatro cheio de lições, moralismos, preconceitos, dúvidas, ações já conhecidas, com repetições cênicas frágeis em relação ao que ocorre no cinema e na TV, em desenhos animados que, em geral ensinam a agressividade ou portam um sentido que a produção em teatro não vê, não percebe. Isso ocorre porque se tenta limitar a percepção do mundo infantil em sala abarrotadas de doces e brinquedos, luzes faiscantes, músicas repetitivas e congeladas em refrões enfadonhos que não alcançam aquele universo senão superficialmente. A criança ri, pula, grita, fica cheio de doces nas mãos, mas, o mistério não acontece.
O pirata é mau e tolo, os ricos são abestalhados e espertalhões, a princesa é magra, loira e nunca decide nada em sua vida, o príncipe apenas anda a cavalo e encontra o seu amor, os pobres são pessoas maravilhosas que não tiveram oportunidade em ter coisas para si, a vida vai se resumindo em relações pouco refinadas do sensível, tornando o sentido da existência em pequenas e pobres experiências. A criança sente que o amor não é uma rotina e a vida é sempre a possibilidade, a descoberta, a grande aventura.
Sons estridentes que não alcançam o coração da criança são comuns no ensino, na escola. Aquela quantidade de aguadas de guaxe, o derrame sem propósito de argila, recortes com cor-de-rosa em vários tons e uma infinidade de plástico e, pior, a sucata como ponto final da relação ensino-aprendizagem faz da arte um brincadeira cansativa, que ao contrário de animar o sonho, o gosto do calmo, suave, sensível, abarrota a criança a causar-lhe estresse.
Para um negócio de animação puro e simples, a arte como processo de sensibilização humana é triste, cansativa, caótica, medida, homogênea. Mas pensemos que vivemos no mundo plural, que a construção do gosto deve ser feito com calma (com alma) e respeito. O outro, aquele magnífico que é a criança deseja apenas ser guiado a um mundo que coadune com a sua capacidade de subjetivação do mundo, de fantasia e de um aprendizado que está na própria ação ética da arte.
Onde estiver e aonde formos com certeza à volta se encontra elementos da expressão artística, e, podemos muitas vezes no cotidiano atropelado da civilização em movimento, encontrar aquele tesouro artístico, aquele bem que nos conforta e nos leva a outros espaços.
Acontece que não percebemos, estamos presos num racionalismo quantitativo, muito extremo e consideramos qualidades como coisas não objetivas, indeterminadas que pode explicar diferentes gostos, mas não um todo que se possa dizer: escolho isso porque jamais deixarei de ser aceito no meu grupo social, na minha condição.
A arte se rebela contra o amorfo consentimento das ordens da mídia, do consumo, da competição, e anda por aí a quem quer ver e sentir como a revelação da inteligência. A sensibilidade parece não fazer parte dessa realidade cotidiana, mas não é assim, repentinamente temos uma experiência estética. O mundo tão medido, em completo design, estetizado não concebe a beleza e o estranhamento a sua causa.
Levar a criança ao teatro, fazer teatro em casa, na escola é uma grande felicidade para aqueles que puderem se aproximar do universo sensível da arte. A realidade do dia-a-dia, de um cotidiano cheio de coisas a fazer e comprar, e ter, e realizar em contínua progressão de desamparo, deixa a todos numa situação de dúvida. O que é a arte, como ela se processa, onde está como posso me aproximar e aprender.
Pensando no teatro, a ação nos encaminha ao reconhecimento de tudo que se apresentam, os momentos cênicos fazem com que pensemos, ao mesmo tempo que sentimos. Uma mudança de luz, um papel que passa flutuando no palco, a música, a dança dos atores, o jogo das roupas, dos adereços que estão na cena e aqueles que são de um mago, do ator. O teatro pode ser feito com muito pouco. Mas, o que vale é a interpretação, a maneira que as personagens se desenvolvem e como o aparato cênico se faz receptível ao público. Sem encantos e desencantos é impossível conciliar a vida, e o teatro traz essa possibilidade, de vermos à nossa frente, algo real, mas que sabemos é arte.
No dia-a-dia vemos alguém que passa cantando, uma janela que se abre, um móvel que está fora do lugar onde devia estar, a percepção do vento que leva nuvem e as imagens que parecem no céu, até um amontoado de lixo que tão arrumado torna-se estranhamente encantador, a maneira como andam, a metade de um outdoor ainda não colado, o desenho indefinido da chuva no jardim, a sombra que fazemos e tanto o mais que já conhece. Em todos os cantos a arte ou em todos os cantos pessoas pensantes, inteligentes que se sensibilizam com o mundo.
Pensando assim, que se pode viver com mais emoção sem perder nada da capacidade técnica de sermos quem somos, já se sabe que a escolha do que vamos ver com as crianças deve ser algo surpreendente, assim como a vida.
PMNT
A beleza do teatro infantil como faz está relacionado a uma grandiosa sensibilidade que compreende a criança. O mundo da criança, como nos ensina a Pedagogia é também interno, um universo de vida sensível e iluminada. Quando o teatro busca se aproximar desse lugar maravilhoso deve, ao menos fazer o ritual, a consagração da alegria. Sem isso, temos técnicos, fazedores de dinheiro com interesses muito distantes da delicada vida da criança.
Um teatro cheio de lições, moralismos, preconceitos, dúvidas, ações já conhecidas, com repetições cênicas frágeis em relação ao que ocorre no cinema e na TV, em desenhos animados que, em geral ensinam a agressividade ou portam um sentido que a produção em teatro não vê, não percebe. Isso ocorre porque se tenta limitar a percepção do mundo infantil em sala abarrotadas de doces e brinquedos, luzes faiscantes, músicas repetitivas e congeladas em refrões enfadonhos que não alcançam aquele universo senão superficialmente. A criança ri, pula, grita, fica cheio de doces nas mãos, mas, o mistério não acontece.
O pirata é mau e tolo, os ricos são abestalhados e espertalhões, a princesa é magra, loira e nunca decide nada em sua vida, o príncipe apenas anda a cavalo e encontra o seu amor, os pobres são pessoas maravilhosas que não tiveram oportunidade em ter coisas para si, a vida vai se resumindo em relações pouco refinadas do sensível, tornando o sentido da existência em pequenas e pobres experiências. A criança sente que o amor não é uma rotina e a vida é sempre a possibilidade, a descoberta, a grande aventura.
Sons estridentes que não alcançam o coração da criança são comuns no ensino, na escola. Aquela quantidade de aguadas de guaxe, o derrame sem propósito de argila, recortes com cor-de-rosa em vários tons e uma infinidade de plástico e, pior, a sucata como ponto final da relação ensino-aprendizagem faz da arte um brincadeira cansativa, que ao contrário de animar o sonho, o gosto do calmo, suave, sensível, abarrota a criança a causar-lhe estresse.
Para um negócio de animação puro e simples, a arte como processo de sensibilização humana é triste, cansativa, caótica, medida, homogênea. Mas pensemos que vivemos no mundo plural, que a construção do gosto deve ser feito com calma (com alma) e respeito. O outro, aquele magnífico que é a criança deseja apenas ser guiado a um mundo que coadune com a sua capacidade de subjetivação do mundo, de fantasia e de um aprendizado que está na própria ação ética da arte.
Onde estiver e aonde formos com certeza à volta se encontra elementos da expressão artística, e, podemos muitas vezes no cotidiano atropelado da civilização em movimento, encontrar aquele tesouro artístico, aquele bem que nos conforta e nos leva a outros espaços.
Acontece que não percebemos, estamos presos num racionalismo quantitativo, muito extremo e consideramos qualidades como coisas não objetivas, indeterminadas que pode explicar diferentes gostos, mas não um todo que se possa dizer: escolho isso porque jamais deixarei de ser aceito no meu grupo social, na minha condição.
A arte se rebela contra o amorfo consentimento das ordens da mídia, do consumo, da competição, e anda por aí a quem quer ver e sentir como a revelação da inteligência. A sensibilidade parece não fazer parte dessa realidade cotidiana, mas não é assim, repentinamente temos uma experiência estética. O mundo tão medido, em completo design, estetizado não concebe a beleza e o estranhamento a sua causa.
Levar a criança ao teatro, fazer teatro em casa, na escola é uma grande felicidade para aqueles que puderem se aproximar do universo sensível da arte. A realidade do dia-a-dia, de um cotidiano cheio de coisas a fazer e comprar, e ter, e realizar em contínua progressão de desamparo, deixa a todos numa situação de dúvida. O que é a arte, como ela se processa, onde está como posso me aproximar e aprender.
Pensando no teatro, a ação nos encaminha ao reconhecimento de tudo que se apresentam, os momentos cênicos fazem com que pensemos, ao mesmo tempo que sentimos. Uma mudança de luz, um papel que passa flutuando no palco, a música, a dança dos atores, o jogo das roupas, dos adereços que estão na cena e aqueles que são de um mago, do ator. O teatro pode ser feito com muito pouco. Mas, o que vale é a interpretação, a maneira que as personagens se desenvolvem e como o aparato cênico se faz receptível ao público. Sem encantos e desencantos é impossível conciliar a vida, e o teatro traz essa possibilidade, de vermos à nossa frente, algo real, mas que sabemos é arte.
No dia-a-dia vemos alguém que passa cantando, uma janela que se abre, um móvel que está fora do lugar onde devia estar, a percepção do vento que leva nuvem e as imagens que parecem no céu, até um amontoado de lixo que tão arrumado torna-se estranhamente encantador, a maneira como andam, a metade de um outdoor ainda não colado, o desenho indefinido da chuva no jardim, a sombra que fazemos e tanto o mais que já conhece. Em todos os cantos a arte ou em todos os cantos pessoas pensantes, inteligentes que se sensibilizam com o mundo.
Pensando assim, que se pode viver com mais emoção sem perder nada da capacidade técnica de sermos quem somos, já se sabe que a escolha do que vamos ver com as crianças deve ser algo surpreendente, assim como a vida.