Teatro para crianças
Tudo bem, faz bem, movimenta o corpo, descontrai, socializa, promove interações de novos conhecimentos através do jogo dramático, desperta a sensibilidade cênica, do movimento, da organização plástica, da ocupação do espaço, da responsabilidade com o outro entre muitas outras coisas possíveis. Mas não tem coisa mais chata de que uma criança robotizada na decoreba, em marcações exageradas, em obrigações adultas, definições de papel muito evidenciado em um teatro de adultos que as crianças cumprem como obrigação.
Dá impressão que estamos conversando desde aquela vez, não é? Bem, o que estava tratando é que a criança é criança, (grande novidade!) está no período de descobertas, da busca afetiva, do amor e respeito que todos devemos ter por este momento maravilhoso. Quero dizer que forçar não é bom, exigir demais, obrigar a brincar não é legal. A oportunidade da brincadeira, do jogo infantil acontece o tempo todo e não naquele momento específico da aula de artes.
Isso quer dizer que as aulas, o processo educacional quando se faz mais próximo do mundo infantil, mais promove o aprendizado. O interesse, o foco de atenção estão em consonância com um aprender que não seja moleza, mas que seja encantamento. Não é muito fácil ao professor oferecer meios de aprendizagem em espaço tão exíguo, tão jesuítico em escolas com filas, com demarcações de território, com a posição central do mestre naqueles tablados antigos, com a lousa seca, com luz entrando, ou a soturnidade triste de espaços extremamente fechados, e de cortinados poeirentos.
Criar é maravilhoso quando o outro, aquele que vê o processo de criação seja considerado. É uma inteligência unida ao sensível e compartilhada. Criatividade e silêncio da gestão escolar é a comprovação triste da burocracia que vai até o relógio ponto e nunca chega à sala, e pior ainda aquela gestão educacional com caixas acústicas em salas – e isso eu vi! -, que sem motivo algum, e a qualquer momento pode interromper uma aula para tratar de assunto qualquer: Atenção professor Luiz, amanhã as crianças vão ao museu com a professora Nide!
O mundo da criança, sua beleza é destruída em segundos frente a uma portentosa guarda de um ensino ensimesmado no desrespeito, no descampado terrível de sua apresentação pública. Quanto mais deveres para casa, mais os pais amam a escola. E assim, a criança se esforça mais, utiliza todo seu cabedal sensível para mostrar àqueles adultos do qual tem esperanças de ser realmente amada que cumpriu os deveres, marcou os pontos, tirou a nota, realizou aquela quantidade ridícula de tesouras, colas, tintas e - ainda se usa! -, cartolinas.
A mãe faz o dever de casa, o pai ajuda e tudo fica no mesmo. É um teatro de pouca fascinação que encobre um descaso interior. Os cuidadores de crianças deviam saber que elas sabem que é um teatro enfeitado com atores ruins que ganham um papel e não têm compromisso com o público. A vida torna-se um teatro canastrão, com falsos valores.
A criança a ser respeitada, a ser amada por tudo que é, por ser o que é: criança merece aprender, deseja limites, saber que o outro é importante. Se fazemos o dever de casa, colocamos os nossos filhos numa escola em que tudo é repetido, sem um fundo de verdade, estamos com problemas.
Sim, como estava dizendo e escrevendo: o teatro é muito importante. Mas a professora não vai ao teatro, os pais muito menos, o teatro que vez e outra assistem tem aquela voz irritante de adulto se fazendo de criança de uma forma cansativa, burocratizada na verbalização. Não há flores plantadas em suas casas, em seus apartamentos, nos lofts, nos sobrados e querem que a criança se sensibilize com a arte, com a vida. Que goste de pessoas, que cumpra suas obrigações, que tenha asseio e tudo o mais.
Não vão ao cinema, ao museu, ao parque, ao concerto, a um encontro musical, não lêem, não buscam encontrar pessoas diferentes para um convívio mais amoroso, não possibilitam visitas de amigos dos filhos em suas casas, não têm tempo, não têm gostos, não têm prazeres, não se sentem preparados, adequados, corretos. Mas a arte é arteira, uma brincadeira que estranha, divide, complica.
Não é cópia em E.V.A. – aquela borracha horrível! -, não é recorte de revistas conhecidas, caras e bocas. A expressão artística é um divertimento, e é também um pensamento novo, ainda não conhecido. Que pode ser encontrado de uma forma e de outra desde que praticada.
Alguém lê para a criança, aguarda também a sua leitura, inventa histórias, passeia de bicicleta e conta o que é equilibrar, faz desenhos, leva a um passeio ao redor do bairro, mostra um pedaço do mundo, conta suas recordações, suas esperanças positivas para a vida, compra um livro diferente, um lápis com mais texturização, um papel adequado, recorta papelão em casa, faz pipa, usa as coisas do jardim para realizar a surpreendente modificação do mundo com príncipes e princesas, magos, seres estranhos que são apresentados.
Uma escola cheia de plástico no mínimo cheira a petróleo. Sem fantasia não há alegria. Não há professores há tios e tias! E eles imitam uma voz falsa para dizer não, outra para sim, outra para conversar com os adultos, outra para dizer que estão gostando, outra voz para dar limites. É um teatrinho ruim. E dão apelidos às crianças: Dinin vem cá! Zezé, eu já disse! Nenê, que lindo! As crianças sabem, somos feitos de símbolos. Se desejar algo e não consegue pode se jogar no chão que conseguirá. Imagina você fazendo isso no trabalho!
O mundo tal qual é não existe. É um teatro de que todos chegam no horário, os carros partem, o livro didático liberta, que um atrás do outro é normal, que se deve isso e aquilo, que um montão de tarefas é legítimo. A vida pode ser mais simples e mais divertida e muito mais produtiva se os adultos tão exigidos em seus trabalhos feitos de enfeiteis, de carrinhos novos, camisas perfumadas, alianças, brilhantes, reloginhos, horariozinhos, serões para ganhar mais, unha pintada, cabelo pirado de coques e retoques, cara maquiada, roupinha especial, terninho, gravatinha e cara agonizante, agressiva, dor no estômago, dor na canela, gritão, mandão, e cheio de ninharias no criado mudo ao lado da cama e no cofre.
As representações sociais de poder, de valores, de sentimento a gente vê na TV e na rua como uma reprodução. Talvez tenha feito isso: Sabe com quem está falando?
O teatro para a criança é importante, e é também o teatro da vida real. Aulinhas de teatro ajudam no desenvolvimento infantil, mas isso não há de valer em absoluto nadas se aqueles para quem a criança se esforça em se mostrar, em se ver, no aguardo de que digam: nossa, você existe! Você é muito importante para nós! (parece coisa de gravação telefônica) Em alguns instantes você será atendido! E nunca é atendido.
Amar é meio que se libertar do óbvio, das coisas prontas, de falsa educação e sair de mãos dadas com a criança, apoiá-la no que está realizando com verdade. Se a verdade da vida teatral não brota da boca, talvez seja necessário que os pais façam teatro primeiro, representem para seus filhos, tirem a couraça das coisas miúdas para as grandiosas que são as relações humano-afetivas. Elas produzem a libertação, a emancipação criadora – e saiba que isso é muito perigoso. Um dia deixamos de pagar ingresso para um show ruim, de aplaudi-los e quem sabe até vaiá-los. Tornar-se quem se é de verdade pode causar espanto no elenco teatral de nossa convivência. Bem uma hora destas a gente se fala.
PMNT
Tudo bem, faz bem, movimenta o corpo, descontrai, socializa, promove interações de novos conhecimentos através do jogo dramático, desperta a sensibilidade cênica, do movimento, da organização plástica, da ocupação do espaço, da responsabilidade com o outro entre muitas outras coisas possíveis. Mas não tem coisa mais chata de que uma criança robotizada na decoreba, em marcações exageradas, em obrigações adultas, definições de papel muito evidenciado em um teatro de adultos que as crianças cumprem como obrigação.
Dá impressão que estamos conversando desde aquela vez, não é? Bem, o que estava tratando é que a criança é criança, (grande novidade!) está no período de descobertas, da busca afetiva, do amor e respeito que todos devemos ter por este momento maravilhoso. Quero dizer que forçar não é bom, exigir demais, obrigar a brincar não é legal. A oportunidade da brincadeira, do jogo infantil acontece o tempo todo e não naquele momento específico da aula de artes.
Isso quer dizer que as aulas, o processo educacional quando se faz mais próximo do mundo infantil, mais promove o aprendizado. O interesse, o foco de atenção estão em consonância com um aprender que não seja moleza, mas que seja encantamento. Não é muito fácil ao professor oferecer meios de aprendizagem em espaço tão exíguo, tão jesuítico em escolas com filas, com demarcações de território, com a posição central do mestre naqueles tablados antigos, com a lousa seca, com luz entrando, ou a soturnidade triste de espaços extremamente fechados, e de cortinados poeirentos.
Criar é maravilhoso quando o outro, aquele que vê o processo de criação seja considerado. É uma inteligência unida ao sensível e compartilhada. Criatividade e silêncio da gestão escolar é a comprovação triste da burocracia que vai até o relógio ponto e nunca chega à sala, e pior ainda aquela gestão educacional com caixas acústicas em salas – e isso eu vi! -, que sem motivo algum, e a qualquer momento pode interromper uma aula para tratar de assunto qualquer: Atenção professor Luiz, amanhã as crianças vão ao museu com a professora Nide!
O mundo da criança, sua beleza é destruída em segundos frente a uma portentosa guarda de um ensino ensimesmado no desrespeito, no descampado terrível de sua apresentação pública. Quanto mais deveres para casa, mais os pais amam a escola. E assim, a criança se esforça mais, utiliza todo seu cabedal sensível para mostrar àqueles adultos do qual tem esperanças de ser realmente amada que cumpriu os deveres, marcou os pontos, tirou a nota, realizou aquela quantidade ridícula de tesouras, colas, tintas e - ainda se usa! -, cartolinas.
A mãe faz o dever de casa, o pai ajuda e tudo fica no mesmo. É um teatro de pouca fascinação que encobre um descaso interior. Os cuidadores de crianças deviam saber que elas sabem que é um teatro enfeitado com atores ruins que ganham um papel e não têm compromisso com o público. A vida torna-se um teatro canastrão, com falsos valores.
A criança a ser respeitada, a ser amada por tudo que é, por ser o que é: criança merece aprender, deseja limites, saber que o outro é importante. Se fazemos o dever de casa, colocamos os nossos filhos numa escola em que tudo é repetido, sem um fundo de verdade, estamos com problemas.
Sim, como estava dizendo e escrevendo: o teatro é muito importante. Mas a professora não vai ao teatro, os pais muito menos, o teatro que vez e outra assistem tem aquela voz irritante de adulto se fazendo de criança de uma forma cansativa, burocratizada na verbalização. Não há flores plantadas em suas casas, em seus apartamentos, nos lofts, nos sobrados e querem que a criança se sensibilize com a arte, com a vida. Que goste de pessoas, que cumpra suas obrigações, que tenha asseio e tudo o mais.
Não vão ao cinema, ao museu, ao parque, ao concerto, a um encontro musical, não lêem, não buscam encontrar pessoas diferentes para um convívio mais amoroso, não possibilitam visitas de amigos dos filhos em suas casas, não têm tempo, não têm gostos, não têm prazeres, não se sentem preparados, adequados, corretos. Mas a arte é arteira, uma brincadeira que estranha, divide, complica.
Não é cópia em E.V.A. – aquela borracha horrível! -, não é recorte de revistas conhecidas, caras e bocas. A expressão artística é um divertimento, e é também um pensamento novo, ainda não conhecido. Que pode ser encontrado de uma forma e de outra desde que praticada.
Alguém lê para a criança, aguarda também a sua leitura, inventa histórias, passeia de bicicleta e conta o que é equilibrar, faz desenhos, leva a um passeio ao redor do bairro, mostra um pedaço do mundo, conta suas recordações, suas esperanças positivas para a vida, compra um livro diferente, um lápis com mais texturização, um papel adequado, recorta papelão em casa, faz pipa, usa as coisas do jardim para realizar a surpreendente modificação do mundo com príncipes e princesas, magos, seres estranhos que são apresentados.
Uma escola cheia de plástico no mínimo cheira a petróleo. Sem fantasia não há alegria. Não há professores há tios e tias! E eles imitam uma voz falsa para dizer não, outra para sim, outra para conversar com os adultos, outra para dizer que estão gostando, outra voz para dar limites. É um teatrinho ruim. E dão apelidos às crianças: Dinin vem cá! Zezé, eu já disse! Nenê, que lindo! As crianças sabem, somos feitos de símbolos. Se desejar algo e não consegue pode se jogar no chão que conseguirá. Imagina você fazendo isso no trabalho!
O mundo tal qual é não existe. É um teatro de que todos chegam no horário, os carros partem, o livro didático liberta, que um atrás do outro é normal, que se deve isso e aquilo, que um montão de tarefas é legítimo. A vida pode ser mais simples e mais divertida e muito mais produtiva se os adultos tão exigidos em seus trabalhos feitos de enfeiteis, de carrinhos novos, camisas perfumadas, alianças, brilhantes, reloginhos, horariozinhos, serões para ganhar mais, unha pintada, cabelo pirado de coques e retoques, cara maquiada, roupinha especial, terninho, gravatinha e cara agonizante, agressiva, dor no estômago, dor na canela, gritão, mandão, e cheio de ninharias no criado mudo ao lado da cama e no cofre.
As representações sociais de poder, de valores, de sentimento a gente vê na TV e na rua como uma reprodução. Talvez tenha feito isso: Sabe com quem está falando?
O teatro para a criança é importante, e é também o teatro da vida real. Aulinhas de teatro ajudam no desenvolvimento infantil, mas isso não há de valer em absoluto nadas se aqueles para quem a criança se esforça em se mostrar, em se ver, no aguardo de que digam: nossa, você existe! Você é muito importante para nós! (parece coisa de gravação telefônica) Em alguns instantes você será atendido! E nunca é atendido.
Amar é meio que se libertar do óbvio, das coisas prontas, de falsa educação e sair de mãos dadas com a criança, apoiá-la no que está realizando com verdade. Se a verdade da vida teatral não brota da boca, talvez seja necessário que os pais façam teatro primeiro, representem para seus filhos, tirem a couraça das coisas miúdas para as grandiosas que são as relações humano-afetivas. Elas produzem a libertação, a emancipação criadora – e saiba que isso é muito perigoso. Um dia deixamos de pagar ingresso para um show ruim, de aplaudi-los e quem sabe até vaiá-los. Tornar-se quem se é de verdade pode causar espanto no elenco teatral de nossa convivência. Bem uma hora destas a gente se fala.